2 de junho de 2008

Modelos e Comparações

Algumas pessoas crescem sendo comparadas, às vezes aos filhos dos vizinhos, aos colegas de escola, aos amigos e ou parentes... desde novos aprendemos o conceito de modelos, nossos tutores sempre ilustraram nossa vida com exemplos.

E assim crescemos, comparados e aprendendo a comparar, aprendemos a ter prazer ao realizar uma comparação e no fim nos darmos conta que em algo somos melhores, aprendemos com as comparações satisfazer o ego, estamos sempre buscando algo em que somos superiores aos olhos dos mediadores, dos juízes (algumas vezes, nos tornamos juízes de nós mesmos). Criamos com isso um sentimento de competitividade e passamos a nos alimentar de bons resultados. E muitas vezes, para alimentar completamente o ego, algumas pessoas reduzem à cinzas os "adversários" com a aprovação ou omissão do mediador ou grupo de pessoas.

Fazemos todo o tipo de comparação, de problemas à doenças, de experiências à falta delas, do que temos e do quanto temos e, se temos pouco, da qualidade desse pouco. E da forma que fomos criados, segue-se também as crianças de hoje, tentando se sobressair, chamar a atenção.

Eu cresci assim, sendo comparado ao filho da amiga que já trabalhava, ao filho da vizinha que está fazendo intercâmbio, a filha da colega de uma conhecida que sempre é a melhor da escola. Usam isso como motivação, acreditam que irão tirar o melhor de alguém criando uma competitividade ridícula. Nesses momentos somos alvejados com olhares decepcionados, olhos que traduzem a expressão "... Eu esperava mais..." e em seguida, dentro de nós, uma angustia, fruto do descontentamento causado pelo nosso esforço, começa a crescer. E por muitas vezes, nada do que se faça é o bastante para se igualar ao modelo usado por nossos juizes.

Me lembro de uma vez em que ouvi algo do tipo, "...Gostaria tanto que algum de vocês fosse músico...", eu, que na época estava envolvido com banda, me prontifiquei, saindo na frente dos demais: "... eu sou baixista!!!" achei que nesse momento deixaria de ser um mero comparado e me tornaria um modelo! Ilusões à parte, obtive um: "Não era desse instrumento que eu estava falando... me referia a um piano... que um de vocês fosse pianista!" de pronto esbocei um: "Ah... ... ... entendo... ..." isso foi a muito, muito tempo. Mas isso foi devido a um jovem pianista dotado de um talento nato ter se apresentado em um Talk-show ou coisa do tipo na tv.

Nem todas as pessoas são comparadas, e nem todas as pessoas percebem quando são e, muitas pessoas, fazendo uso da razão, passam acreditar que esta comparação é um exercício para a vida, porque a sociedade é competitiva, porque temos sempre quer procurar sermos melhores. Mas muitos de nós se perdem nesse caminho, muitos apenas sentiram o pesado reverso da medalha, muitos apenas tiveram seus egos massacrados pela humilhante e amarga derrota de não se sentirem vitoriosos, de se sentirem inferiores perante o modelo usado e inferiores também aos seus mediadores. E alguns, ainda tiveram a "honra" de serem comparados ao exemplo vivo! Ou ao vivo, uma comparação frente a frente, quase uma acareação... quem passou por tal situação sabe bem o que é isso... e ainda, mesmo depois da adolescência, ainda se sentem e ou são comparados (ou melhor dizendo... cobrados??)

Às vezes, as comparações acontecem pelo fato das pessoas que nos amam depositarem em nós os sonhos que não conseguiram realizar. Passam a sonhar um futuro melhor para nós...

Achar que este é um assunto banal, é simplesmente ignorar a realidade, é buscar dentro de uma "razão burra" explicação para o que não gostaria de pensar a respeito. Basta olhar ao redor e analisar, refletir sobre os modelos que nos são impostos, aos quais somos comparados e que incessantemente tentamos seguir, tentamos buscar, tentamos ultrapassar. Um bom exemplo é o modelo de beleza "europeu" imposto pela moda, mídia, sociedade, conheço pessoas que se sentem infelizes consigo e buscam incessantemente essa "perfeição"... existem tantos outros modelos que seria uma bobagem render mais exemplos.

O que realmente devemos parar de comparar é a nossa vida com a do outro. Ouço muitas pessoas dizerem que podem falar amplamente sobre determinado assunto porque tem mais experiência que outras, pessoas que menosprezam os problemas alheios porque o deles é infinitamente maior e sem solução, pessoas que comparam suas vidas, experiências e idade afirmando assim serem os donos da verdade, quando na verdade, cada ser é um individuo único e singular, na maioria das vezes solitário por ainda não se encontrar em busca de suas próprias respostas e, sem duvida nenhuma, terá suas próprias experiências.

Devemos parar de nos sentirmos inferiores. Algumas pessoas nem esperam que outras digam que seus problemas são minúsculos, elas mesmas diminuem seus problemas após ouvirem os de outras pessoas. E passam a ter vergonha, porque até em problemas temos modelos e juizes. Mesmo que seu problema seja um corte no dedo, e que alguém tenha quebrado o braço, não aceite que seu problema é menor, somente você sabe o tamanho que seu problema representa e, somente aprendendo a enfrentar seu problema é que você realmente estará apto a compartilhar a dor daqueles que importam a você.

Não importa se você não toca piano, se você não fala outro idioma, se não é tão belo ou se não é um individuo politicamente correto, não busque modelos, não compare e não aceite comparações. Seja você seu próprio espelho, seu próprio modelo, viva o que há de melhor em você intensamente. O que faz de você especial é que você é único e incomparável e nada no mundo vai mudar esta verdade.

Querer que alguém siga um modelo determinado é atrasar o desenvolvimento desta pessoa. Não sonhe seus sonhos para quem você ama, somente você pode realiza-los. Se você ama, não compare...

3 comentários:

Anônimo disse...

é verdade, outra coisa alem da comparação, é ficar "depreciando" digamos assim, os filhos, nunca, mas nuca ouvi alguem me chamando de inteligente e esperta lá em casa, nao tenho raiva da minha familia, mas sempre ouvi que eu era desajeitada, maluquete, de tanto a gente ouvir coisas assim, a gente acaba achando que é mais burra que os outros só porque nao é igual.

Anônimo disse...

Eiii
Cade voce???

†Maul† disse...

Olá Iara

Sem sombra de dúvida a familia é crucial na formação da nossa "segurança". É preciso incentivo ao invés de depreciação das nossas capacidades!

Obrigado pela visita!