14 de maio de 2008

Sobre o Tempo

Hoje o tempo passou. Sinto cada ano da minha existência pesar o equivalente a 2 kg. levanto-me como se fizesse isso apenas para provar que ainda existe vontade, engano real. Busco sobre um emaranhado de recordações uma pequena agenda... à luz torta que teima em adentrar pela fresta vejo os nomes em páginas amareladas... penso em cada historia que aqueles nomes trazem... de coisas repetidas a originais, as imagens vão se formando... verdes campos refrescam a memória, atordoado percebo que só ficou lembranças...


"Insisto em resgatar sem confiança", e escolho aleatoriamente... teclo os números... a companhia telefônica transmuta meu desejo em pulsos fazendo soar a esperança por meio de uma campainha a alguns quilômetros adiante... alguém atende... peço para falar com o passado presente, e sou atendido... do outro lado uma voz conhecida reconhece a minha... não falamos sobre nada mas, deixei claro meu desejo de conversar sobre tudo ou mero algo, ou talvez nada. Nada do que foi dito valia a pena mesmo... ensaios, sobre tudo, vazio...

Segunda chamada, som alto e distorcido, deve ser uma festa ou comemoração. A pessoa que me atende não me escuta... às vezes acho que ninguém me escuta mesmo... quem procuro não está, sorte ou azar? Não tinha nada para falar.... melhor assim...

Continuo olhando as páginas sujas e amarelas, moldadas pelo tempo... um nome borrado, respiro e disco... do outro lado, ouço sinais de derrota, uma voz abatida me saúda, converso... vidas iguais, parece que estou falando com o espelho... nada de novo, sem novidades... agendo qualquer coisa para um futuro próximo que não vai chegar, desligo.

Suspiro e insisto, disco para o improvável, uma chamada para fora do estado... ele atende, surpreso, vidas desiguais... caminhos diferentes... prosperidade sem avanço... dor sem mascarás ou maquiagem... o assunto, qualquer um... não faz diferença, não afeta a nenhum dos dois interlocutores... lá fora, pequenos fragmentos de água caem empoçando em meio a relva... nostálgica a conversa se desenrola... pedaços de história se completam e se perdem... "Meus vinte anos de "boy, that's over, baby" o que será de nós de agora em diante? Pergunto... silêncio... solo infértil... nada mais há em comum... encerro.

Agora só há memórias... lembranças.... melancolia... "historias".... resta apenas caminhar para os 40... aonde cada ano passará a pesar 5 kg. estado letárgico da razão, o "tempo..."

Ainda estou ao telefone...

...mudo...

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